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por Oriza Martins
A Operação Leão Marinho, na SGM, foi o codinome da projetada invasão e ocupação pelos alemães, à ilha da Grã-Bretanha.
Mas, antes, os nazistas precisavam obter o domínio do ar e derrotar a força aérea britânica, a Royal Air force – RAF.
Assim, travou-se uma guerra no ar que ficou conhecida como a Batalha Britânica ou Batalha da Grã Bretanha.
A SGM, com certeza, foi palco de atuação de muitos heróis, centenas, milhares, milhões.
Mas hoje vamos aqui recordar um “herói” em especial, cuja presença foi fundamental na Batalha Britânica.
A Batalha Britânica aconteceu no início da guerra, quando o Reino Unido praticamente estava sozinho na luta contra a Alemanha.
A batalha durou de julho a outubro de 1940 e foi fundamentalmente uma batalha aérea, comparável à luta entre o pequeno Davi e o gigante Golias.
Golias, no caso, era a força aérea alemã, na época a maior do mundo, bem treinada, equipada e motivada. A famosa Luftwaffe, comandada por Herman Goring.
E o pequeno Davi era a RAF, Royal Air Force, a força aérea britânica, um verdadeiro passarinho diante da águia nazista, numericamente inferior em praticamente tudo.
E mesmo assim a RAF venceu a batalha sobre os nazistas.
Foi um milagre? Talvez, em parte; na verdade, vários fatores contribuíram, como a capacidade de resistência dos britânicos, incentivados por Winston Churchill, lances de sorte, também, e outros mais.
Mas, nesse cenário todo, um “herói” foi fundamental.
Neste caso, foi protagonista um herói improvável e inesperado.
Esse herói improvável e inesperado que levou os britânicos à vitória, viria a ser conhecido como “radar”.
Radar. Isso mesmo.
O radar foi o agente, uma novidade em termos de guerra, que levou os britânicos à vitória na Batalha Britânica.
E o homem por trás dessa tecnologia maravilhosa foi Robert Watson-Watt, e sua contribuição para os esforços de guerra foi tão importante que em 1942, ele foi nomeado cavaleiro pelo rei, com o título de Sir.
Existe um memorial ao nascimento do radar, localizado na pequena aldeia de Litchborough, no Reino Unido, onde estão escritas as seguintes palavras: “Robert Watson-Watt e Arnold Wilkins mostraram pela primeira vez na Grã-Bretanha que aviões podiam ser detectados por ondas de rádio. Em 1939, havia 20 estações rastreando aeronaves a distâncias de até mais de 100 milhas depois, conhecidas como radar. Foi esta invenção mais do que qualquer outra que salvou a Royal Air Force da derrota na batalha da Grã-Bretanha”.
Dessa forma, os radares permitiam aos britânicos saber com antecedência que os aviões alemães estavam a caminho, detectando-os desde que saíam da França em direção à ilha. Assim, os heroicos sptifires recebiam essa preciosa ajuda para combater o inimigo.
Os alemães ficavam malucos.
Até parecia que os britânicos sabiam quando eles viriam e os esperavam.
E sabiam, mesmo, graças ao radar.
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por Oriza Martins
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Ou seja, o radar contribuiu enormemente para quebrar as asas da águia alemã.
Nessa época, os alemães, os japoneses e os americanos também estavam pesquisando tecnologias de radar, independentemente.
Mas foram os britânicos que tinham feito um avanço espetacular, ao desenvolver a válvula termo-iônica magnetron, um transmissor de radar bem mais potente que seus predecessores.
O memorial ao nascimento do radar localiza-se em Litchborough, porque a primeira experiência foi realizada em um campo ali perto através de duas antenas receptoras localizadas a cerca de 9 km de distância de uma das estações de transmissão de ondas curtas da BBC, em Daventry.
E o curioso é que os britânicos avançaram nesses estudos porque, anteriormente, havia chegado até eles uma informação da contraespionagem, segundo a qual os alemães estavam inventando um tal de “raio da morte” através de ondas de rádio, que seria capaz de incapacitar um piloto de avião em pleno voo, aquecendo-lhe o sangue, ou seja literalmente fritando-o.
Sir Robert Watson-Watt era chefe de Arnold Wilkins, também citado no memorial, e eles formavam uma dupla fantástica que tentou descobrir que raio da morte era esse, mas acabaram considerando a ideia impraticável.
Wilkins calculou que um ‘raio da morte’ de rádio exigiria uma potência impraticavelmente grande – mesmo se o aviador não fosse protegido pelo metal da aeronave.
Em sua conversa relatando isso a Watson-Watt, ele sugeriu, entretanto, que aeronaves poderiam ser detectadas pelo reflexo de ondas de rádio.
Então, eles resolveram aproveitar a verba destinada ao tal raio da morte na pesquisa das ondas de rádio.
E deu certo.
Wilkins também forneceu todos os cálculos teóricos, e seu sistema foi demonstrado em Litchborough, no chamado experimento de Daventry, em 1935, que detectou com sucesso uma aeronave a até 13 quilômetros de distância, refletindo ondas de rádio, pela primeira vez na história.
E ano final do ano, o alcance já era de até 100 quilômetros.
Em 2010, 75 anos depois, a experiência foi reencenada, próximo ao local do memorial, com réplicas dos equipamentos originais.
E, na mesma época em que se desenrolava a Batalha Britânica, em agosto de 1940, um outro grande físico da mesma equipe fazia uma viagem arriscada para os EUA, em uma missão secreta, chamada de Missão Tyzar, levando um precioso baú com estudos sobre avanços tecnológicos dos britãnicos.
Era Edward George Bowen que estava focado em estudos para um radar aerotransportado que se mostraria fundamental na batalha marítima do Atlântico.
Os EUA ainda não haviam entrado na guerra, mas estavam ajudando o Reino Unido com suprimentos, equipamentos, na infraestrutura, e se interessaram muito ao ver o avanço dos britânicos na área científica.
Ambos, então, firmaram acordos para trocas de tecnologias.
Historiadores e cientistas são quase unânimes em afirmar que esse baú foi a mais importante carga de conteúdos que aportou à América, na história.
Além dessa fantástica tecnologia do radar, ele levava também na bagagem estudos britãnicos sobre a viabilidade da bomba atômica, projetos de motores a jato, foguetes, supercompressores, miras giroscópicas, dispositivos para detecção de submarinos, tanques de combustível com autovedação, explosivos plásticos e talvez a mais importante invenção da SGm que foi o funcional magnetron número 12, um avanço na tecnologia de radares, mil vezes mais eficaz que o melhor similar americano.
A necessidade de compartilhar com os EUA devia-se, não apenas às relações entre aliados, mas ao temor dos ataques alemães sobre os laboratórios no Reino Unido.
Edward Bowen enfrentou uma tensa e longa jornada, primeiro num táxi, depois em um trem e finalmente de navio, com o baú de metal negro levando uma dúzia de protótipos de magnetrons que não poderiam em hipótese alguma cair em mãos dos nazistas.
Para isso, foram feitos buracos no baú para que afundassem, caso o navio fosse atacado pelos alemães.
Felizmente, deu tudo certo.
Bowen apresentou o projeto aos cientistas do MIT – Instituto de Tecnologia de Massachussets – que imediatamente montaram um laboratório para o trabalho.
A tecnologia do radar foi sendo aperfeiçoada, a tempo de ser aproveitada em outras fases da guerra, inclusive pelos póprios EUA, no front do Pacífico, por exemplo.
E o resto é história.
A vitória na Batalha Britânica foi a primeira vitória em batalha travada especificamente no ar e, por um tempo precioso, colocou um freio na máquina de guerra nazista.
A Operação Leão Marinho cujo era objetivo invadir e ocupar o Reino Unido teve que ser adiada pelo Fuhrer alemão.
E se hoje as modernas tecnologias de radar ultrapassam usos e limites inimagináveis, não é exagero homenagearmos não apenas os soldados que se arriscaram na batalha, mas também aqueles valorosos cientistas pioneiros e recordarmos as célebres palavras de Winston Churchill, ditas após a vitória na Batalha Britânica e que entraram para a história: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”.